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SONHO IMAGINOSO
(Guito Argolo, Gonzaga Leal e J. Velloso)
Só se vê e entende as coisas d'um modo
Úmidas de rio, de orvalho
De tons de frutas de feira
Que vêm de reinos encantados
Soltas, ricas, coloridas e tímidas
Como flores, conchas e mato entrelaçado
Sou das coisas simples
Pertenço aos meus guardados
Sou o fundo dos rios
E do mato intrincado
Sabe do que estou falando:
Memória, memória
Memória é labirinto
Age noite e dia como num quarto
Com uns objetos dormindo
Outros acordados
Primeira vez diante do mar
Levei um susto belo
Onde termina o mar?
É inumano pensar
Mas penso no pequeno gesto
Nas pequenas coisas
Na leveza das impurezas
Sou interiorano urbano
Guardo as lembranças pelo afeto
Íntimo de mim é o silêncio
Íntimo de mim é o deserto
A felicidade enfeita e reborda
É a alegria nos seus excessos
O mundo é belo antes de ser verdadeiro
Admirado antes de ser verificado,
De ser pensado
Matéria dissolve e se perde
É folha que cai no roçado
Ser feliz é o desafio
O detalhe do detalhe,
Como os olhos num rosto
Ou o musgo na árvore
A pedra no rio
Ou sol no céu da tarde
Tudo que me emociona também me entristece
Mas de tudo faço um sonho imaginoso